sábado, 18 de abril de 2015

O GATO E O DIABO, de James Joyce - Por Ed de Vortex



Uma das curiosidades que sempre tive é a de saber qual o primeiro contato das pessoas com um livro. Meu primeiro contato com um não representou minha primeira leitura, o que só aconteceu com “O Pequeno Príncipe”, bem depois. Mas foi algo que marcou minha infância como uma boa recordação de gente que eu amava, e também agora com a descoberta de que o primeiro livro que me puseram em mãos fora escrito por... James Joyce.
Foi durante o que antes se chamava de alfabetização que Tia Silene me deu o livrinho colorido com a figura do diabo na capa. Lembro-me de ter sentido um pequeno mal-estar pelo título e por ter o “coisa ruim” envolvido. A imagem evocava realmente coisas terríveis em minha mente infantil por causa de minha formação religiosa. Mas o fato de ter desdenhado o livro tinha mais a ver com meu interesse quase que exclusivo por quadrinhos àquela época. Aceitei de bom grado o presente da professora, com muita polidez, pois sabia do apreço dela por mim (que saudade, tia!). Mas assim que cheguei em casa, o livro foi parar no sofá e ficou lá por uns dois ou três dias.
Até que minha avó me chamou muito empolgada. Ela lera o livro, achou a historinha engraçada e veio me contar, acho que ela não sabia que o livro era meu. Mostrou-me as figuras, contou-me tudo o que havia lido e fiquei surpreso por perceber que também gostara do que estava escrito. Talvez tenha sido o momento em que me dei conta de que os quadrinhos não eram a única coisa legal para se ler.
Aquele exemplar infelizmente se perdeu e apenas o episódio ficou em mim como uma das muitas recordações que tenho de minha avó (que foi a pessoa que mais me incentivou a ler) e de Tia Silene (que eu queria muito poder reencontrar), mas felizmente eu pude reviver graças a esta edição de 2012 da Cosac Naify que é linda.
A tradução da Lygia Bojunga, autora que marcou presença em outros momentos de minha vida, faz jus ao que promete, pois apesar de ser um livro infantil, ela respeita duas coisas importantes nesta leitura: a capacidade de compreensão das crianças (que não é subestimada nem mesmo quando nomes e passagens em francês são mantidas) e o peso do nome de Joyce. E é curioso notar que o próprio autor escreveu a história (baseada num conto popular francês) em carta para seu neto Stephen. Ao que parece, a missiva foi enviada junto com um gato de brinquedo cheio de doces dentro, o que serviu de mote para que o escritor não perdesse a chance de contaminar o pequeno Stevie com o amor pela ficção. E não era isso que minha própria avó estava fazendo quando me chamou naquela tarde?

Mas o que realmente me encantou nesta edição foram as incríveis ilustrações em aquarela do mineiro Lelis. Tenho uma enorme afeição por aquarela e a arte do livro salta aos olhos já na capa com um gigantesco demônio vermelho fazendo levitar um pedaço da ponte que prometeu ao prefeito de Beaugency em troca da primeira alma que a atravessasse. Foi uma grande sacada ter representado o diabo com a imagem do próprio Joyce e os detalhes dos prédios e ruas consegue manter aquele equilíbrio do qual falei acima, respeitando tanto a visão da criança quanto o material ímpar forjado pelas mãos de um gênio conhecido. Acabei me tornando fã do Lelis, que apesar de ser um desenhista premiado (inclusive com o prêmio HQMix) eu só pude conhecer agora. Só aumenta o valor do presente. Se a edição que Tia Silene me deu contasse com o traço de Lelis, talvez eu não a tivesse deixado de lado naquele tempo.


O Gato e o Diabo é um daqueles exemplos de histórias infantis que não se preocupam em passar lições aos pequenos leitores. Hoje em dia, o compromisso de ter um “moral da história” no final é até combatido, inclusive por escritores que eu admiro como Neil Gaiman. Acho importante que crianças leiam histórias mais comprometidas e declaradamente educativas, mas é necessário que elas naveguem nesses mares ousados da ficção para que suas mentes se tornem alertas à diversidade em todos os sentidos.
Quando Joyce apresentou o conto a seu neto, tinha um objetivo que em sua mente estava claro. Talvez fosse mesmo despertar algo no menino, talvez fosse somente o de entretê-lo. O fato é que a história, que tem muito a ver com ganância, política e as artimanhas dos adultos, desempenha seu papel de diversas formas. E me pergunto se o irlandês autor de Ulysses tinha noção de que seu intuito para com Stevie se cumpriria, com tanta completude, para com tantas crianças ao longo destes quase oitenta anos. 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

A PRIMEIRA VEZ COM JANE AUSTEN - Por Renata Ferreira



Livro: Razão e Sensibilidade
Autora: Jane Austen

Razão e Sensibilidade é um livro sobre a relação entre duas irmãs que se amam (acredito!) mas, com suas personalidades bem distintas. Elinor é prática e racional, passa por cima dos próprios sentimentos. Marianne é pura emoção, vive como se não houvesse amanhã sem pensar nas consequências, uma romântica intensa.
O que mais me chamou a atenção foi sua descrição, de forma aparentemente fiel, dos costumes antigos da Inglaterra. Pode até ser um pouco estranho da minha parte, mas imaginar todas aquelas regras de como uma mulher deve se comportar e pensar é encantador, mostrando-me que, apesar da restrição que a mulher tinha em opinar, ela estaria preparada para qualquer situação que a vida viesse a oferecer.
Como minha primeira vez com Jane Austen foi uma primeira boa impressão. O livro não é entediante. Pelo contrário, é muito dinâmico, sempre acontecendo algo, sempre aparecendo alguém pra “se meter” na vida da família Dashwood, enfim, é um livro muito interessante.
Geralmente as histórias têm apenas um personagem principal, e tudo ocorre em torno daquele indivíduo. Em Razão e Sensibilidade, você pode escolher qual das duas é sua preferida, certo? Errado! Comigo isso não aconteceu. Elinor e Marianne têm um pouco de todos nós, e conviver com esses dois extremos é muito difícil.

Não há razão que seja inabalável quando o sentimento por alguém começa a florescer e, depois ver à sua frente a possibilidade de perder a única coisa que achava possível controlar. Por mais que nunca tenha tido uma prioridade. Talvez tenha sido isso o meu principal incentivo à leitura, não há nada melhor do que ler um livro que tem um algo de você. 


terça-feira, 14 de abril de 2015

Sobre #AsVantagensDeSerInvisível - Por Suzana Figs


"Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos" já disse uma vez Antoine de Saint-Exupéry em O Pequeno Príncipe.
Se alguém um dia me perguntasse qual o super poder que eu gostaria de ter eu responderia sem titubear: Invisibilidade.
Sempre gostei da ideia de ser invisível. E ser invisível para mim talvez traga essa ideia de ser especial porque posso ver coisas que os outros não podem. E poder ouvir as conversas alheias, de poder olhar nos olhos das pessoas e não me sentir sem graça. De poder fazer o que eu quiser e não ser julgada pelo olhar do outro. De ser eu mesma e ser também meus outros eus.
Bom, para mim essas eram algumas das vantagens de ser invisível.
Então um belo dia, dando scroll num grupo de leitura que eu acompanho no Facebook, li a respeito de um livro chamado AsVantagens de Ser Invisível. ^^
Nem li a sinopse, apenas o nome do livro me provocou e fui atrás. Imediatamente eu baixei o livro (um vício meu ) e comecei a ler. Achei o formato bem interessante. O personagem principal, Charlie (15 anos) escreve cartas para um amigo que ele não diz quem é ou pode ser um diário também. Quando eu li eu vi mais como um diário.
É meio como estar invisível e vendo Charlie escrever suas impressões particulares na sua intimidade. Mas pra falar a verdade, creio que fui fisgada mais pela frase "E quero que você saiba que sou feliz e triste ao mesmo tempo, e ainda estou tentando entender como posso ser assim" do que pela ideia da invisibilidade.
Bom, sou pisciana com ascendente em câncer e lua em escorpião, logo, melancolia é meu nome do meio. De cara me identifiquei com o personagem, porque também sou feliz e triste ao mesmo tempo e se a Astrologia não me explicasse eu teria que ir atrás do Dr. Freud.
 Fiquei curiosa sobre como Charlie lidaria com sua melancolia e dei continuidade à leitura. Assim, fui invadindo a vida íntima de Charlie, acabando por me sentir o próprio diário/amigo a quem ele escrevia. Era para mim que ele ia contando a sua relação com as pessoas na escola e com as pessoas de sua família. Oferecendo impressões muito maduras a respeito dos relacionamentos humanos e como algumas pessoas boas se envolvem com pessoas não tão boas assim porque não tem consciência do próprio valor. Charlie tem uma percepção sensivelmente aguçada para as experiências que nos tornam demasiadamente humanos.
Durante esse seu processo de amadurecimento e descobertas, Charlie conhece dois amigos: Sam e Patrick. Pessoas que passam a querer saber sobre suas coisas favoritas e começam a enxergá-lo de forma especial: "Charlie, você vê as coisas. Você guarda silêncio sobre elas. Você compreende"
É um livro que tem trilha musical. Adoro livros que tem trilha musical.
Li o livro em uma madrugada. Acho que foi 4 horas de leitura ininterrupta. Chorei horrores. E no final me identifiquei mais ainda porque #SomosInfinitos.
Quando lançaram o filme assisti imediatamente e pude constatar que foi bem fiel ao livro, até porque o Stephen Chbosky, o autor do livro é roteirista, e se quem entende de roteiro se interessar em ler #AsVantagensDeSerInvisível vai perceber que existem muitas ações visuais no livro, coisa de roteirista mesmooo. ^^
Bom, essas foram algumas das minhas impressões sobre As Vantagens de Ser Invisível. Super recomendo. (5 CORAÇÕESZINHOS/5).